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terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Cristão e a Depressão

Você sabia que no Brasil estima-se que cerca de 10% da população sofre de depressão? Ou seja: uma a cada 10 pessoas - e que somente 4% dessas pessoas tem o diagnóstico e procuram tratamento?

Segundo a Organização mundial de Saúde – OMS, a depressão será a patologia que mais incapacitará indivíduos em todo o mundo até 2020.



A depressão é uma realidade na vida de muitos homens e mulheres de Deus. Apesar de não acreditarem que isso é possível, todos estamos sujeitos.


Não são poucos os personagens bíblicos que sofreram dessa patologia. A questão é que muitos desconhecem os sintomas, e não procuram o tratamento adequado; Quando procuram, a situação está agravada demais, necessitando de intervenção psiquiátrica a base de medicação.

Meu propósito em escrever este artigo, é alertar para uma doença que está sorrateiramente destruindo muitos ministérios de homens e mulheres chamados por Deus, e que têm negligenciado sua saúde emocional.



Sintomas mais comuns da depressão




A depressão, também chamada de “o mal do século” tem sido muito falada, ao ponto algumas pessoas confundirem tristeza com depressão, e são coisas diferentes. Tristeza é um sentimento momentâneo - uma reação a alguma situação desagradável que aconteceu. É normal você ficar triste quando acontece alguma coisa que não foi planejada, quando você perde o emprego, a separação de um casal ou quando acontece alguma coisa que você não desejou - depois da perda de um ente querido: uma reação que nós chamamos de luto ou de estresse. Pode ocorrer um sentimento de tristeza por até 6 meses Isso é perfeitamente normal.

Depressão é diferente. Depressão é uma doença que causa transtorno para vida da pessoa acometida. Você deve suspeitar de depressão quando essa tristeza se torna presente a maior parte do tempo e é desproporcional aos fatos ocorridos. Além disso, a depressão não é só tristeza, ela vem acompanhada de um conjunto de outros sintomas. 

Perda do ânimo - Também chamado de anedonia - é a perda da capacidade de sentir prazer, próprio dos estados gravemente depressivos. Esse sintoma, o indivíduo perde a vontade e o interesse de fazer as coisas que mais gostava. 

Alteração de peso – A depressão provoca uma grande alteração de peso, seja ganhando ou perdendo, sem ter se esforçado pra isso. A alteração de apetite tanto para mais ou para menos também é um sintoma é importante da depressão, fator provocador desse desajuste no peso. 

Distúrbio do sono – Consiste nas dificuldades relacionadas ao sono: muito sono ou insônia - que é a dificuldade de iniciar o sono, acordar várias vezes durante a noite ou acordar mais cedo que o normal.

Esquecimento e dificuldade na concentração – A depressão faz com que o pensamento fique mais lentificado. Nesse quadro, o indivíduo pode queixar-se de dificuldade de memória e de compreender coisas que antes tinha uma grande facilidade ou mesmo a dificuldade de executar tarefas simples. 

Cansaço constante – O Indivíduo se sente cansado o tempo todo, sem energia para fazer as suas atividades.

Perda da libido - também pode ocorrer uma diminuição da libido - o desejo sexual  fica diminuído.

Sentimento de culpa – O depressivo desenvolve elevado sentimento de culpa. Se sente culpado por tudo e as pessoas falam que está sempre olhando o lado negativo das coisas. Na depressão, sentimentos de culpa e pessimismo intenso são muito frequentes, como se o indivíduo enxergasse o mundo de uma forma distorcida, de uma forma negativa.

A depressão e o Suicídio


Pensamentos e desejos suicida - A depressão é uma das principais causas de suicídio. Sobre esse ponto, quero chamar atenção para dois aspectos muito importantes.

Primeiro – O uso de álcool e drogas é muito comum. O indivíduo deprimido busca drogas lícitas ou ilícitas para aliviar a sua angústia, mas, ao invés de aliviar, isso agrava o quadro e piora muito o risco de suicídio,

O segundo aspecto é um sinal de gravidade que chamamos de "sinal de alerta". Trata-se de pensamentos recorrentes em morte. É importante observar se a pessoa tem pensamentos de morrer o tempo todo, pensamento em exterminar a própria vida, em suicido como se essa fosse a única solução para seus problemas. Caso isso esteja ocorrendo, a pessoa deve procurar ajuda, para que tenha uma avaliação quanto à gravidade do quadro, e seja tomado uma atitude o mais rápido possível para esse problema.

Não subestime esse problema - No Brasil são 10 mil mortes por suicídio por ano e no mundo uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos. 

A depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida - na infância, na adolescência na maturidade ou na velhice, e muitas vezes ela acontece em decorrência a outra patologia, como por exemplo: infarto agudo do miocárdio, um acidente vascular cerebral, diabetes, etc. Quando diagnosticado e tratado logo no início, melhora muito a qualidade de vida da pessoa.

A Depressão é uma doença como qualquer outra, não é sinal de loucura, de fraqueza e nem irresponsabilidade. Se você percebeu algum desses sintomas apresentados aqui, procure um especialista na área de saúde mental. O diagnóstico precoce é o melhor caminho para colocar a vida nos eixos. 

Biblicamente encontramos esse quadro em um personagem acima de qualquer possibilidade, ao olhar espiritual, de sofrer de depressão: O profeta Elias. Um homem que superou os mais diversos confrontos e desafios, repentinamente foge de uma situação insignificante ante as diversas batalhas que outrora vencera com segurança e fé. O que vemos a seguir é um homem profundamente depressivo.


ELIAS, UM PROFETA DEPRESSIVO

Sintomas da depressão na vida de um dos maiores profetas da bíblia - o grande profeta Elias. 1Rs.19.
v.4 - E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.

  • Pulsão para a morte: "pediu para si a morte" v4; Pensamentos suicida.
  • Esgotamento emocional: "já basta" v4; - Perda do ânimo.

v.5 - E deitou-se e dormiu debaixo de um zimbro; e eis que, então, um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come.
v.6 - E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se.

  • Esgotamento físico associado à fuga: "deitou e dormiu" v5,6; Perda do ânimo.
v.9 - E ali entrou numa caverna e passou ali a noite; e eis que a palavra do SENHOR veio a ele e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?
  • Fuga - "entrou na caverna" - v9;
v.10 - E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o teu concerto, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem.
  • Autojustificativa - Tenho sido muito zeloso pelo Senhor; v.10
  • Projeção - Elias projeta nos filhos de Israel o que estava vivenciando:
1.    “deixaram a tua aliança”;
2.    “derrubaram teu altares”;
3.    “mataram teus profetas” V10;
Esses são sintomas emocionais detectados em Elias. A depressão tem outros sintomas que podem ser percebidos na vida de muitos personagens bíblicos.
Ainda sobre a pulsão para a morte, analisemos um dos homens escolhidos por Jesus para o apostolado – Judas Iscariotes, que chegou ao limite: o Suicídio.

Judas – Depressivo suicida


Criado em meio aos conflitos existenciais, na infância já presenciava os piores índices de violência tanto religiosa quanto socialmente. Possivelmente seus pais teriam sido membros da seita dos Zelotes, viveu sob a ira de um povo revoltado com os judeus. Judas cresceu só, sem amigos e sem um bom relacionamento social. 



Era culto, bom administrador e eloquente em palavras - usava destes dons para se autopromover visando somente seus interesses pessoais, não se importando com quem se relacionava. Para ele a frase: Eu te amo, não tinha importância. Uma pessoa com tal perfil, jamais se veria como um sacerdote. 


Ao ser chamado por Jesus para o apostolado, passa a ser visto com outros olhos por todos que o conheciam. 


Jesus mudou a convivência de Judas. Deu-lhe um voto de confiança e novos relacionamentos, além de dar-lhe demonstração de amor, carinho, atenção e respeito. 


Judas tinha tudo para viver uma nova vida, no entanto suas deficiências emocionais e de caráter não haviam sido tratadas. Judas jamais permitiu a exposição de seus traumas.


Apesar de estar convivendo com o mestre Jesus, constantemente suas deficiências emocionais são reveladas na bíblia.


Judas o Psicopata - O Psicopata é dotado de pouca ou nenhuma empatia. Alguns cientistas acham que o psicopata é totalmente indiferente e insensível aos sentimentos ou necessidades alheias. A falta de empatia do psicopata pode não ser facilmente percebida, visto que ele consegue facilmente enganar as pessoas. - João 12:6 – revelar a psicopatia de Judas: Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.


O comportamento de Judas define sua psicopatia; Uma pessoa sem empatia com os menos favorecidos: “ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres”. 



Também não sente medo, é uma pessoa que não tem receio das punições que suas ações possam acarretar. E é nesta parte que entra a manipulação, pois o psicopata é capaz de armar grandes espetáculos para mostrar como está “arrependido” de seus erros, chegando até mesmo a comover algumas pessoas desavisadas.



A psicopatia não é loucura, mas sim um grave transtorno de personalidade difícil de ser tratado.


Uma das improbabilidades para a psicanálise é um psicopata cometer suicídio - Dificilmente um psicopata se deixa levar pela comoção, arrependimento ou desespero. Ele procura outra forma para burlar esses sentimentos, mas não cometendo suicídio.
As confusões mentais de Judas vão aos extremos da psicopatia, ao ponto de cometer o suicídio.

O suicido de Judas e a Psicanálise - Para compreender as motivações que levaram Judas ao suicídio, é necessária uma leitura do quadro geral sob o ponto de vista psicanalítico, que o levou a dar cabo da própria vida.
A psicanálise compreende que não há uma causa única que leva ao suicídio, mas é um processo sintomático desenvolvido ao longo da vida do indivíduo. Uma série de fatores que vão se acumulando, tais como: fatores familiares, emocionais, sociais, biológicos, psicológicos, dentre outros, que acaba culminando na consumação do ato.

Para o suicida, viver é mais sacrificante do que o morrer. Seu estado emocional está carregado de sentimentos negativos como culpa, vergonha, angústia, solidão, etc. O acumulo desses sentimentos desenvolve a ideais de morte, não com a intenção de morrer, mas como a única forma de dar fim a essas emoções insuportáveis.

A vida torna se tão insuportável que o indivíduo busca a morte como uma opção à vida, não apenas pelo desejo de morrer. A morte não é o que o ele quer, porque não tem noção do que é a morte, na verdade o que deseja é fugir do sofrimento.

Nesse estágio, o indivíduo se depara com o conflito descrito por Freud na Segunda Tópica - entre o ego e o superego.
¹“As observações de Freud a respeito de seus pacientes revelaram uma série interminável de conflitos e acordos psíquicos. A um instinto opunha-se outro; proibições sociais bloqueavam pulsões biológicas e os modos de enfrentar situações que, frequentemente, chocavam-se uns com os outros. Ele tentou ordenar este caos, aparentemente, propondo três componentes básicos estruturais da psique: o id, o ego e o superego”. (FADIMAN e FRAGNER, 1986, p. 10)

Outra forma de compreender o suicídio sob a ótica da psicanálise é a segunda teoria de Freud (1920) sobre as Pulsões - pulsão de vida e pulsão de morte. Nesse caso, o suicídio é visto em parte, como um evento onde a pulsão de morte se sobrepõe em relação à pulsão de vida. Nesse conflito constante entre a vida e a morte, a última acaba prevalecendo.

No texto Luto e Melancolia, Freud (1915) descreve o suicídio como a volta da destrutividade contra si próprio, onde há um anseio de matar outro, e como autopunição, essa agressividade volta contra o próprio indivíduo. Para Freud, nenhum neurótico abriga pensamentos de suicídio que não consistam em pensamentos assassinos contra outros, o qual volta contra si.

Em tese, o suicida reprime o desejo de matar outra pessoa, ou seja: uma agressão voltada para o íntimo, contra um objeto de amor.

A falta de maiores informações no relato bíblico dificulta a conclusão de um diagnóstico sobre a verdadeira motivação que levou Judas ao suicídio, no entanto, sob a ótica da psicanálise é possível à aplicação de uma das duas teorias referidas.

Ante o exposto, a vida espiritual, por mais intimidade com Deus que o indivíduo possa ter, não impossibilita de sofrer uma depressão profunda.

Por que não me matou na madre? Assim minha mãe teria sido a minha sepultura, e teria ficado grávida perpetuamente! Jr.20:17.

Osésa Rodrigues de Oliveira
Psicanalista Clínico
Pós Graduado em Psicanalise Aplicativa
044-997601317 (whatsapp)


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