A decisão do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, que concedeu uma liminar tornando legalmente possível a psicólogos oferecer terapias de reversão sexual, causou muita polêmica que, a meu ver, foi mal interpretada.
Somente profissionais da área psicanalítica sabem o que ouvem no consultório, sendo, muitas vezes, prejulgados e taxados pelo movimento LGBT, da prática da chamada “cura gay”.
Ao mesmo tempo em que pessoas procuram o terapeuta para lidar com o conflito de assumir a homossexualidade, outros enfrentam conflito inverso: Não querem assumir essa condição, principalmente quando se trata de pessoas criadas na igreja - de formação cristã.
Não se pode negar que entre jovens cristãos, a tendência homossexual é uma realidade. Porém, existem muitos comportamentos que são mecanismos de fuga, autoengano e, principalmente conflitos na área da sexualidade, já que é um assunto pouco tratado, porém muito reprimido nas igrejas, e que acabam por definir, para muitos adolescentes e jovens, uma preferência gay como simbolização de outros conflitos interiores.
A repressão imposta pelos pais, pela moral e pela doutrina da igreja, é exterior, no entanto, para os adolescentes e jovens cristãos, existe, mais intensamente, a repressão interior – sentimento de pecado e de culpa. Essa repressão tende a potencializar os desejos reprimidos, ou seja: tudo aquilo que tentamos reprimir em nós, torna-se mais forte.
De todas as temáticas expositivas apresentadas na igreja, a sexualidade é a menos tratada, deixando que esse seja um assunto para as rodas de amigos e da escola.
A ausência e omissão dos pais é outro fator predominante no conflito da sexualidade dos filhos. Muitos, apesar de perceber comportamentos homossexuais em seus filhos, preferem a negação como mecanismo de defesa, tentando esconder a realidade, negando que ela pudesse acontecer.
A negação é um mecanismo de defesa inconsciente e natural, necessário para sobrevivermos à dor que dilacera a alma, é ao mesmo tempo um dos fatores envolvidos na gênese de tragédia que tememos.
Determinados comportamentos homossexuais dos filhos têm o objetivos de chamar a atenção dos pais. A negação impede que esses comportamentos sejam observados. Mais tarde, o que era apenas uma forma de chamar a atenção, torna-se uma realidade.
No consultório vivenciamos a experiência de ouvir muitos filhos de pastores e de membros de igrejas evangélicas clamarem desesperadamente: “Eu não sou e nem quero ser gay!”, enquanto, dentro de si os conflitos os consomem.
Nos dias atuais, a procura de terapeuta para tratar o conflito da sexualidade dos filhos, deve ser vista com cuidado, haja vista que pode ser mal interpretada como a decisão do juiz – Cura Gay.
Outro cuidado é a escolha do profissional. Dentre muitos casos que acompanhamos, um se destaca pela falta de profissionalismo do terapeuta. Ao atender um paciente com tendências homossexuais - filho de um pastor, mesmo buscando um tratamento para vencer essas pulsões, foi levado a assumir a homossexualidade e encaminhado a outro especialista na área de saúde, para prescrição de hormônio feminino, sem consultar os pais, já que o paciente é menor (adolescente). Um psicoterapeuta equilibrado terá outra abordagem, resguardando o desejo do paciente na escolha do tratamento.
Diferente do psicólogo que estuda o comportamento, o psicanalista trilha o caminho que levou o indivíduo a homoafetividade: “Não compete à psicanálise solucionar o problema do homossexualismo. Ela deve contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos que culminaram na determinação da escolha de objeto, e remontar os caminhos que levam deles até as disposições pulsionais” (Freud 1920, p. 211).
Para a Psicanálise, o homossexualismo não é uma doença ou um caso de justiça, mas uma variação das funções sexuais - a homossexualidade não é algo a ser tratado nos tribunais. (…) Eu tenho a firme convicção que os homossexuais não devem ser tratados como doentes, pois uma tal orientação não é uma doença. Isto nos obrigaria a qualificar como doentes um grande números de pensadores que admiramos justamente em razão de sua saúde mental (…). Os homossexuais não são pessoas doentes (1903 apud Menahen, 2003, p. 14). “A homossexualidade não é, certamente, nenhuma vantagem, (...) nós a consideramos como uma variação da função sexual”(Jones, 1979, p. 739).
O que fazer quando descobre que tem um filho(a) gay?
Pessoalmente recomendo que, antes de lidar com a situação, os pais busquem ajuda profissional para equilibrar as emoções, Já que para qualquer família evangélica, é uma situação contrária a todos os seus princípios.
Devem-se levar em conta que o filho já vive seus conflitos desde que percebe os desejos homoafetivo, já os pais vão começar as crises emocionais e psicológicas, a partir da descoberta. O equilíbrio emocional será determinante no trato da situação.
Outra atitude que ira determinar o futuro do filho é o amor demonstrado pelos pais. Nenhum pai deve aceitar o comportamento do filho, mas deve amá-lo, deixando bem clara a diferença entre aprovação e amor, pois é assim que Deus nos trata – Ele não aprova nossas atitudes, mas nos ama incondicionalmente. Independente de qualquer coisa, ele continuará sendo seu filho - ame-o com a mesma intensidade.
Não seja o primeiro a recriminar o próprio (a) filho(a). - Não o censure mais do que ele mesmo e os outros já o fazem. A descoberta da homossexualidade afeta o estilo de vida, o autocontrole e possui efeitos emocionais conflitantes. Culpa, desânimo e fuga podem trazer consequências catastróficas sobre o indivíduo.
Não perca o convívio e o diálogo – a homoafetividade, em sua maioria, está relacionada ao fracasso inicial no relacionamento com os pais, de tal forma que o filho não se sentiu integralmente amado, e passou a considerar-se mau e inferior. Muitos pais se distanciam mais do que antes, consumidos pelos sentimentos de culpa, desgosto, dor e repudio. Na maioria dos casos, o isolamento leva o filho à promiscuidade e prostituição.
Outra consequência é o suicídio por verem o sofrimento dos pais. Nesse caso, o filho internaliza o sentimento de que seus pais prefeririam a dor da condenação do suicida à vergonha provocada pela existência de um filho gay. Se os pais forem pastores, a cobrança é ainda maior. Por isso a incidência de suicídios entre gays cristãos é tão alta.
Muitos pastores e membros das igrejas evangélicas têm buscado ajuda na oração, porém, a ajuda psicanalítica profissional e é aconselhada, porque podem ocorrer certos níveis de tensão tão fortes que um leigo não saberia como lidar com eles, e muitos podem confundir com manifestação espiritual, quando pode estar ocorrendo um surto psicótico emocional.
Osésa Rodrigues de Oliveira
Psicanalista Clínico – Pós Graduado em Psicanálise Aplicativa.
Psicanalista Clínico – Pós Graduado em Psicanálise Aplicativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário