Uma comparação para uma compreensão
Muitos Cristãos estão
recorrendo ao consultório psicanalítico para tratar seus problemas emocionais,
haja vista, o número de “pastores” sem preparação teológica, e muito menos para
lidar com os problemas emocionais das pessoas que recorrem à igreja em busca de
refrigério para os anseios da alma.
O movimento celular defende
que cada pessoa é um líder, e, ao conseguir reunir um pequeno grupo, esse líder
sai do ministério que pertence com meia dúzia de pessoas, monta sua igreja
própria e se auto intitula “pastor”.
O mesmo acontece nos
movimentos pentecostais e neopentecostais, onde não há requisito ou critério na
ordenação pastoral.
A busca de uma vida
espiritual elevada por meio da oração, do jejum e busca de poder, são as
condições fundamentais para o desenvolvimento espiritual, sem nenhum ensino
referente ao tratamento da alma.
O pecado é tratado a base
da repressão e da censura do pecador, sem nenhuma compreensão de psiquê e o
comportamento como pecado.
Pense sobre o quadro
abaixo:
Na Igreja Na
clínica Psicanalítica
Alma
Psiquê
Pecador Paciente
Pecado
Comportamento
Santificação
Repressão/Recalque
Consagração Tratamento/Terapia
Santidade
Cura da alma.
Nesse movimentos, nenhum
pastor é obrigado a ter conhecimento psicoterapêutico, mas, no mínimo, deveria
conhecer a tricotomia que compõe o ser humano, e buscar conhecimento sobre os
tratamentos do corpo e da alma.
A teologia transmite a
compreensão das escrituras, e, apesar de a bíblia tratar amplamente sobre a
alma, poucos são os líderes que estão preparados para lidar com ela.
Alma: Psiquê - “Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua
alma...” Dt.4.9. A expressão alma é um termo que no hebraico do Velho
Testamento é - néphesh: dá o sentido literal de “respiração da vida”; No
grego do Novo Testamento é psykhé: termo que indica a vida física e racional
do homem. Etimologicamente, deriva do termo latino animu (ou anima), que
significa "o que anima". Seria a fonte da vida de cada organismo,
sendo eterna e separada do corpo. Alma não é o mesmo que espírito.
Na Bíblia, os vários
sentidos da palavra alma, tais como - sangue, coração, vida animal, pessoa
física, etc., devem ser interpretados segundo o contexto da escritura em que
está contida a palavra “alma”.
Em relação ao ser
humano, a alma é o princípio inteligente que anima o corpo e usa os órgãos
e seus sentidos físicos como agentes na exploração das coisas materiais,
para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior.
Pecador: espiritual e teologicamente falando, o termo faz referência àquele que
comete pecado.
Na psicoterapia, o pecador
é recebido e tratado como um paciente, como uma pessoa que precisa aprender a
lidar com suas atitudes, e, principalmente com o sentimento de culpa, que, em
muitos casos, é o fator predominante das doenças emocionais.
Pecado: O pecado é uma ação “voluntária” ou não, que fere princípios da
vontade e da palavra de Deus.
No estudo psicanalítico do
comportamento, compreendemos o pecado como atitudes, fruto da formação do
caráter, da identificação familiar, da formação dos conceitos, podendo ser
ações conscientes ou inconscientes - instintivas.
O objetivo da psicoterapia
é conhecer a psiquê, afim de tratar a origem do comportamento e dos traumas,
que são responsáveis por comportamentos e a repetição de pecados, que muitas
vezes fogem à compreensão.
Apesar de tratar o pecado
como comportamento, o terapeuta cristão consegue fazer o devido ajustamento dos
termos, sem minimizar o mal espiritual do pecado.
Santificação: na teologia é o processo que leva à uma
forma de vida onde o indivíduo tem o domínio sobre o pecado.
Devido à falta de
preparação e conhecimento, a maioria dos líderes evangélicos, tentam levar os
cristãos à santidade, mais por repressão ou recalque do que por convencimento
de uma vida santa para Deus.
A repressão é o processo psíquico através do qual o sujeito
rejeita determinadas representações, ideias, pensamentos, lembranças ou
desejos, submergindo-os na negação inconsciente, no esquecimento,
bloqueando, assim, os conflitos geradores de angústia.
O Recalque: Denota um mecanismo mental de defesa contra
ideias que sejam incompatíveis com o eu.
Consagração: prática do jejum e da oração como forma de obter maior intimidade com
Deus, resultando numa vida mais pura, santa e cheia de poder e unção do
Espírito Santo.
Essa dedicação é, por si
só, uma forma de vencer todos os sofrimentos físicos e espirituais - o Diabo e
seus demônios, e vencer todos os traumas e males emocionais e mentais.
Na psicoterapia, quando a
pessoa reprime/recalca seus sentimentos, desejos e culpas, se utilizando de
mecanismos de defesa como a sublimação ou a negação, simplesmente está gerando
uma somatória de sentimentos de culpa, desejos e desconfortos emocionais e
psicológicos, tornando-se um vulcão pronto a uma erupção.
Num determinado momento,
um gatilho emocional pode desencadear uma série de distúrbios, provocando
ataques de ansiedade, depressão, culpa ou vergonha.
Pode ser difícil identificar o que exatamente é um gatilho emocional, mas a melhor forma
de curá-lo ou lidar com ele, é conhecer os traumas que o causaram.
Todos, quando criança, inevitavelmente
experimentam dores ou sofrimentos que não reconhecem e nem sabem como lidar com
eles. Quando adultos, criam gatilhos para as experiências que lembram esses
momentos dolorosos vivenciados na infância, como forma de melhor gerir esses
sofrimentos.
Identificar os gatilhos, é o primeiro passo
para curá-los.
Mesmo o cristão mais espiritual tem gatilhos
que, em dado momento, podem ser acionados, desencadeando sentimentos e
comportamentos.
A ameaça de Jesabel ativou um gatilho
mental/emocional em Elias, levando-o a uma depressão profunda.
Santidade: no hebraico – Kadoshi, no grego “agios” que na origem
significa separado. No AT, está mais relacionada ao ritualismo, tanto do
sacrifício como a pureza do “imundo”: lepra, animais impuros, tocar o morto ou
o período menstrual da mulher. Em Is.1.11-17, santidade volta-se para além do
ritualismo e passa a ser visto como uma mudança de comportamento. No NT, a
expressão santidade ganha o verdadeiro sentido. Mt.15.11,18,19 afasta
definitivamente o imundo (ritualismo), para a verdadeira santidade: a pureza
dos pensamentos e das palavras.
A santidade está mais ligada à cura da alma
do que ritualismos e proibições. Dai porque os crentes estão encontrando mais
satisfação e bem estar nas terapias do que nos cultos.
Na igreja, em geral, o pecador não é bem
visto, normalmente é recriminado, censurado e sentenciado ao inferno. Se o
cristão, membro de uma igreja pecar, estará debaixo do julgamento dos demais.
Muitas vezes, o gabinete pastoral é a
instância final do julgamento e da sentença, dai o porque de muitos cristãos
estarem vivendo sérios problemas emocionais. Não são tratados e sofrem de
elevado sentimento de culpa pelos pecados escondidos.
Dependendo da forma que for avaliado por seu
líder espiritual, muitos preferem não mais confiar seus conflitos e pecados, e
passam a viver sua luta contra o pecado sozinho.
No consultório psicanalítico, o mesmo pecador
é ouvido sem censura, sem repressão, mas como uma pessoa que precisa ser
tratada.
O terapeuta irá atuar no tratamento da psique
(alma), para compreender o comportamento (pecado) e tratar as feridas emocionais
(sentimento de culpa), que provoca doenças emocionais e psíquicas.
Como mencionei acima, quando se trata de psicoterapeuta
cristão, o pecado, apesar de tratado como comportamento, não perde a condição
de pecado, o que não acontece com um terapeuta que não tem uma percepção da fé
cristã.
Pessoalmente recomendo que um cristão que
busque ajuda profissional na área de psicoterapia, deve, antes de iniciar seu
programa terapêutico, conhecer o profissional, que é, por questões éticas,
obrigado a respeitar as crenças do paciente.
Assim, os “pastores” deveriam ter, no mínimo,
uma base de conhecimento na área terapêutica, para identificar os sintomas de
distúrbios emocionais e comportamentais, para melhor desenvolver seu chamado
ministerial e, verdadeiramente, ser um cuidador de almas. Esse conhecimento,
contribuiria - e muito, no equilíbrio emocional do próprio pastor e na saúde
emocional e mental de seus familiares.
Observemos que os
suicídios de pastores ocorridos recentemente, são, em sua maioria, pastores
extremamente pentecostais, a ramificação evangélica com maior rejeição aos
tratamentos psicoterapêuticos e os que mais espiritualizam as doenças
emocionais.
Não estou aqui
generalizando, mas vejo com preocupação o quadro emocional da igreja, e,
principalmente, dos que estão à frente do rebanho de Deus.
O julgamento desses
movimentos é tão absurdo, que muitos já condenaram os pastores que cometeram suicídio,
ao inferno, e atribuem ao diabo o suicídio, e que esses suicidas estavam em
pecado. Descartam qualquer quadro de distúrbio emocional, como se esses líderes
não fossem humanos.
Como psicanalista e psicoterapeuta,
li detalhadamente todos os casos de suicídio de pastores e padres nos últimos
três anos, e, com exceção de um padre e de um pastor (que não foram mencionados
distúrbios emocionais ou psicológicos), os demais encontravam-se sob tratamento
da depressão.
Osésa Rodrigues de
Oliveira
Pastor e Psicanalista
Clínico
Pós Graduado em Psicanálise
Clinica.
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