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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O cristão e a prática do beijo na boca da criança?


Uma mãe, preocupada com o comportamento do pai ao beijar a boca do filho, um bebê de 3 anos, me enviou uma pergunta: O beijo na boca da criança passa uma mensagem?
 A preocupação da mãe faz sentido. Mesmo sendo um ato de carinho e inocente, a criança pode estar recebendo uma mensagem distorcida, já que não tem a mesma percepção do pai.

O questionamento é oportuno, visto a ampla repercussão do ocorrido no BBB, onde um pai beijou a filha no reality show, provocando repúdio na sociedade brasileira, embora, para aquela família “isso fosse natural”.
Então, vamos a resposta.
O período mais importante da formação da criança é a primeira infância, que vai desde o nascimento até aos seis anos de idade, quando as áreas fundamentais do cérebro são desenvolvidas: A área do caráter, da personalidade, das emoções, dos contatos interpessoais, da aprendizagem e etc.
É nesse período que a criança aprende a se relacionar e desenvolver importantes valores, principalmente em suas relações na família, na escola e na comunidade.
“Durante o primeiro ano de vida, o ser humano aprende 50% de tudo que virá a aprender na vida e, no segundo ano, aprende mais 25%. Ou seja, nos dois primeiros anos de vida, o ser humano aprende 75% de tudo que um dia virá a aprender. Obviamente, parte desse aprendizado envolve aspectos motores e físicos como sentar, andar, mastigar, falar, etc., mas também aspectos de ordem emocional, intelectual e espiritual. Assim, ao terceiro ano de vida, grande parte do caráter já está formado e aos sete anos está concluído”.
Dados publicados em: Rockey, Ron e Nancy, Chosen Nampa, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 2001) p. 117).
Pesquisas científicas realizadas nos últimos 100 anos, comprovam que a primeira infância é um período decisivo na formação da personalidade, do caráter e do modo de agir do adolescente e do adulto.
É, à partir das experiências vividas na infância, que o mapa da realidade é construído. Para isso, é preciso oferecer à criança ambiente familiar saudável e estável, bons modelos de identificação, atenção e estruturas sociais confiáveis, que estimulem seu desenvolvimento e o aprendizado de valores.
A formação da mente na Neurociência - a Neurociência oferece evidências de que acontecimentos precoces de natureza física, emocional, social e cultural permanecem inscritos nas pessoas por toda vida.
Até próximo aos três anos de vida, a criança se ocupa da concretude do mundo. O fazer e tocar são as formas com que seu vocabulário de símbolos se constrói. O passo seguinte, por volta dos quatro e cinco anos, é o da abstração do pensamento e internalização dos símbolos, em que a criança se ocupará do pensar e a linguagem interna construirá o elenco de símbolos e significados que farão parte do seu arcabouço do imaginário e fantasia.
A Psicanálise e a sexualidade infantil – Temos visto o quanto que a psicanálise tem como um de seus operadores centrais uma compreensão inovadora da sexualidade humana. Por meio dos conceitos, como zona erógena, pulsão e libido, a sexualidade representa-se como porta de entrada para o entendimento da vida psíquica. Com a ideia da pulsão sexual, que de forma diferente do instinto sexual, não se limita às atividades da sexualidade biológica, mas demarca o fator primordial que estimula toda a série de manifestações psíquicas, Freud autoriza uma inovadora e revolucionária compreensão da sexualidade humana. 
Lembremos que, ao se tratar da psicanálise, precisamos entender que Freud não via o sexual no mesmo sentido em que o senso comum da época. Ele propôs a desconstrução da ligação existente entre o sexual e o genital. Seu questionamento se baseava em como e o que constitui a sexualidade nos fenômenos humanos.  
Assim, é de suma importância que entendamos a diferença existente entre “sexo” e “sexualidade”. Cientistas sexuais, a partir da década de 70, convencionaram o termo sexo para se referir à divisão biológica entre macho e fêmea. Tal palavra também serve como referência aos órgãos sexuais, tanto masculino (pênis) quanto feminino (vagina). Enquanto isso, a sexualidade vai além das partes do corpo, organizando-se como um predicado presente não só na cultura como na história do homem. Contudo, a sexualidade envolve prazer, relações sociais, procriação e sublimação.  
“A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, na forma das pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico.” (OMS, 1975, apud EGYPTO, 2003, p. 15 e 16) 
Podemos, inclusive, ressaltar que para a psicanálise o objetivo sexual tido como normal é aquele onde ocorre o encontro dos órgãos genitais capaz de levar ao alívio de tensão sexual e, ao mesmo tempo, a uma extinção temporária do instinto (pulsão) sexual. 
Devemos deixar claro que os instintos humanos não predeterminam certa ação nem a forma como ela se tornará completa. Os instintos humanos têm a função de apenas iniciar a necessidade da ação. 
“Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser uma parte do corpo ou todo ele. A finalidade é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.”  (FADIMAN e FRAGNER, 1986, p.8) 
Precisamos ainda esclarecer que Freud percebeu que no inconsciente existe um estímulo que nos diferencia dos animais. Este instinto foi denominado de pulsão sexual. Assim, enquanto os animais agem impulsionados sem terem outra opção a não ser o instinto – seja pelo instinto de sobrevivência ou de procriação –, o homem, por sua vez, se constitui de uma diversidade de prazeres. É a essa diversidade que Freud chamou de pulsão sexual.  
O psiquismo humano está banhado por essa pulsão e é nisso que para Freud se traduz a sexualidade: essa constante impulsão capaz de movimentar o nosso organismo em busca da satisfação. Não há só fome na boca, mas também libido.  Assim, se a pulsão é uma espécie de energia que leva o indivíduo à ação, aliviando da tensão resultante do acúmulo da energia pulsional, a genitalidade é o alvo da libido, isto é, a ação para a qual a pulsão direciona o indivíduo adulto.
Partindo desse pensamento, cito a psicóloga norte americana Charlotte Reznick - professora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autora do best-seller “O poder da imaginação dos seus filhos: como transformar estresse e ansiedade em alegria e sucesso”, que afirma: “beijar os filhos na boca é “muito sexual”. Seguindo a linha psicanalítica freudiana, a psicóloga destaca que “a boca é uma zona erógena que, ao ser estimulada, pode causar confusão nas crianças”. Afirma ainda: “Quando uma criança chega a 5 ou 6 anos, e começa a ter consciência sexual, o beijo nos lábios pode ser estimulante para ela”.  Esse pensamento vai de encontro com a teoria freudiana da “fase oral” que apresenta a boca como área erógena.
O tema é polêmico, e divergente entre profissionais da área terapêutica, mas, como psicanalista cristão, vejo com preocupação a prática, visto que, vivemos numa sociedade onde se tenta de todas as formas destruir o conceito de família, por meio de ampla divulgação da diversidade sexual e como a mídia mostra que o beijo na boca entre pessoas do mesmo sexo é natural.
Se a criança é formada numa família onde essa prática é comum, ao crescer, verá esse comportamento com naturalidade, deturpando os bons princípios e coadunando com uma prática biblicamente condenável.
Particularmente, vejo com muita cautela essa prática e não recomendável na família cristã evangélica, ainda que muitos achem que “não tem nada a ver”.

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