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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O cristão e a prática do beijo na boca da criança?


Uma mãe, preocupada com o comportamento do pai ao beijar a boca do filho, um bebê de 3 anos, me enviou uma pergunta: O beijo na boca da criança passa uma mensagem?
 A preocupação da mãe faz sentido. Mesmo sendo um ato de carinho e inocente, a criança pode estar recebendo uma mensagem distorcida, já que não tem a mesma percepção do pai.

O questionamento é oportuno, visto a ampla repercussão do ocorrido no BBB, onde um pai beijou a filha no reality show, provocando repúdio na sociedade brasileira, embora, para aquela família “isso fosse natural”.
Então, vamos a resposta.
O período mais importante da formação da criança é a primeira infância, que vai desde o nascimento até aos seis anos de idade, quando as áreas fundamentais do cérebro são desenvolvidas: A área do caráter, da personalidade, das emoções, dos contatos interpessoais, da aprendizagem e etc.
É nesse período que a criança aprende a se relacionar e desenvolver importantes valores, principalmente em suas relações na família, na escola e na comunidade.
“Durante o primeiro ano de vida, o ser humano aprende 50% de tudo que virá a aprender na vida e, no segundo ano, aprende mais 25%. Ou seja, nos dois primeiros anos de vida, o ser humano aprende 75% de tudo que um dia virá a aprender. Obviamente, parte desse aprendizado envolve aspectos motores e físicos como sentar, andar, mastigar, falar, etc., mas também aspectos de ordem emocional, intelectual e espiritual. Assim, ao terceiro ano de vida, grande parte do caráter já está formado e aos sete anos está concluído”.
Dados publicados em: Rockey, Ron e Nancy, Chosen Nampa, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 2001) p. 117).
Pesquisas científicas realizadas nos últimos 100 anos, comprovam que a primeira infância é um período decisivo na formação da personalidade, do caráter e do modo de agir do adolescente e do adulto.
É, à partir das experiências vividas na infância, que o mapa da realidade é construído. Para isso, é preciso oferecer à criança ambiente familiar saudável e estável, bons modelos de identificação, atenção e estruturas sociais confiáveis, que estimulem seu desenvolvimento e o aprendizado de valores.
A formação da mente na Neurociência - a Neurociência oferece evidências de que acontecimentos precoces de natureza física, emocional, social e cultural permanecem inscritos nas pessoas por toda vida.
Até próximo aos três anos de vida, a criança se ocupa da concretude do mundo. O fazer e tocar são as formas com que seu vocabulário de símbolos se constrói. O passo seguinte, por volta dos quatro e cinco anos, é o da abstração do pensamento e internalização dos símbolos, em que a criança se ocupará do pensar e a linguagem interna construirá o elenco de símbolos e significados que farão parte do seu arcabouço do imaginário e fantasia.
A Psicanálise e a sexualidade infantil – Temos visto o quanto que a psicanálise tem como um de seus operadores centrais uma compreensão inovadora da sexualidade humana. Por meio dos conceitos, como zona erógena, pulsão e libido, a sexualidade representa-se como porta de entrada para o entendimento da vida psíquica. Com a ideia da pulsão sexual, que de forma diferente do instinto sexual, não se limita às atividades da sexualidade biológica, mas demarca o fator primordial que estimula toda a série de manifestações psíquicas, Freud autoriza uma inovadora e revolucionária compreensão da sexualidade humana. 
Lembremos que, ao se tratar da psicanálise, precisamos entender que Freud não via o sexual no mesmo sentido em que o senso comum da época. Ele propôs a desconstrução da ligação existente entre o sexual e o genital. Seu questionamento se baseava em como e o que constitui a sexualidade nos fenômenos humanos.  
Assim, é de suma importância que entendamos a diferença existente entre “sexo” e “sexualidade”. Cientistas sexuais, a partir da década de 70, convencionaram o termo sexo para se referir à divisão biológica entre macho e fêmea. Tal palavra também serve como referência aos órgãos sexuais, tanto masculino (pênis) quanto feminino (vagina). Enquanto isso, a sexualidade vai além das partes do corpo, organizando-se como um predicado presente não só na cultura como na história do homem. Contudo, a sexualidade envolve prazer, relações sociais, procriação e sublimação.  
“A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, na forma das pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico.” (OMS, 1975, apud EGYPTO, 2003, p. 15 e 16) 
Podemos, inclusive, ressaltar que para a psicanálise o objetivo sexual tido como normal é aquele onde ocorre o encontro dos órgãos genitais capaz de levar ao alívio de tensão sexual e, ao mesmo tempo, a uma extinção temporária do instinto (pulsão) sexual. 
Devemos deixar claro que os instintos humanos não predeterminam certa ação nem a forma como ela se tornará completa. Os instintos humanos têm a função de apenas iniciar a necessidade da ação. 
“Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser uma parte do corpo ou todo ele. A finalidade é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.”  (FADIMAN e FRAGNER, 1986, p.8) 
Precisamos ainda esclarecer que Freud percebeu que no inconsciente existe um estímulo que nos diferencia dos animais. Este instinto foi denominado de pulsão sexual. Assim, enquanto os animais agem impulsionados sem terem outra opção a não ser o instinto – seja pelo instinto de sobrevivência ou de procriação –, o homem, por sua vez, se constitui de uma diversidade de prazeres. É a essa diversidade que Freud chamou de pulsão sexual.  
O psiquismo humano está banhado por essa pulsão e é nisso que para Freud se traduz a sexualidade: essa constante impulsão capaz de movimentar o nosso organismo em busca da satisfação. Não há só fome na boca, mas também libido.  Assim, se a pulsão é uma espécie de energia que leva o indivíduo à ação, aliviando da tensão resultante do acúmulo da energia pulsional, a genitalidade é o alvo da libido, isto é, a ação para a qual a pulsão direciona o indivíduo adulto.
Partindo desse pensamento, cito a psicóloga norte americana Charlotte Reznick - professora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autora do best-seller “O poder da imaginação dos seus filhos: como transformar estresse e ansiedade em alegria e sucesso”, que afirma: “beijar os filhos na boca é “muito sexual”. Seguindo a linha psicanalítica freudiana, a psicóloga destaca que “a boca é uma zona erógena que, ao ser estimulada, pode causar confusão nas crianças”. Afirma ainda: “Quando uma criança chega a 5 ou 6 anos, e começa a ter consciência sexual, o beijo nos lábios pode ser estimulante para ela”.  Esse pensamento vai de encontro com a teoria freudiana da “fase oral” que apresenta a boca como área erógena.
O tema é polêmico, e divergente entre profissionais da área terapêutica, mas, como psicanalista cristão, vejo com preocupação a prática, visto que, vivemos numa sociedade onde se tenta de todas as formas destruir o conceito de família, por meio de ampla divulgação da diversidade sexual e como a mídia mostra que o beijo na boca entre pessoas do mesmo sexo é natural.
Se a criança é formada numa família onde essa prática é comum, ao crescer, verá esse comportamento com naturalidade, deturpando os bons princípios e coadunando com uma prática biblicamente condenável.
Particularmente, vejo com muita cautela essa prática e não recomendável na família cristã evangélica, ainda que muitos achem que “não tem nada a ver”.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Na “teologia” do DEUS ou o DIABO, o ser humano não existe.

Mais um suicídio de Pastor, o 5° nos últimos 50 dias.

Hoje, 26/01, foi sepultada a Pra. Katiuscia Moreira - da Igreja Fonte das Águas  em Cuiabá. Nosso pesar por esse momento triste para a igreja no Brasil.
Que o Senhor console o Pastor Carlos Moreira e os filhos.



Recentemente recebi uma mensagem de uma pastora me questionando o porquê de eu enviar tantas mensagens abordando o tema SUICÍDIO DE PASTORES. Ela achou se tratar de um assunto inoportuno.

Perguntei a ela se, viajando por uma estrada e houvesse um abismo à frente, ela preferiria que a rodovia fosse sinalizada sobre a existência do abismo, ou que não tivesse nenhum alerta, e fosse surpreendida com sua viagem terminando no despenhadeiro? Ela, contundentemente respondeu que preferia os alertas.

Na prática, ela, como muitos pastores, estão ignorando os alertas que tornam cada dia mais evidente o agravamento do quadro estatístico sobre suicídio entre sacerdotes evangélicos (apesar de que muitos padres também estão na estatística de suicídios entre líderes religiosos).

Por alguma razão, além dos cinco suicídios de pastores em menos de 50 dias, ou seja: um a cada dez dias, tenho recebido informações de outros suicídios de pastores que não reportei, visto não ter confirmação que essas mortes tenham se dado por suicídio.

A principal pergunta que recebo por redes sociais é: Porque isso está acontecendo? A resposta é simples: PASTORES(as) SÃO SERES HUMANOS.


Na "teologia" do Deus ou o Diabo, o ser humano não existe. Ou é Deus  que quis ou o Diabo está matando pastores - o ser humano não tem nenhuma responsabilidade sobre situações trágicas.
Satanás não tem nenhum poder sobre a vida de homens e de mulheres de Deus, principalmente no exercício do ministério. Atente para o que Jesus disse a Pedro – O APÓSTOLO, que andava com Ele: “Simão, Simão, eis que Satanás já recebeu autorização para vos peneirar como trigo! Eu, entretanto, roguei por ti, para que a tua fé não se esgote; tu pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos!” Lc.22.31, 32.

Primeiro - Satanás não pode agir, principalmente sobre a vida de um líder, senão por autorização: “Satanás já recebeu autorização”. Comparemos com Jó 1:6: "E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles". Satanás recebe autorização: “Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face”. Jó 1:11. Isso se confirma em Jó 2.3 – “e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa”. No versículo 6, encontramos novamente a autorização sendo concedida: E disse o Senhor a Satanás: "Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida".


Segundo - no relato de Lucas 22.32, há uma interferência de Jesus, atuando como advogado nos termos de 1Jo.2.1 - "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". Satanás requer autorização, mas o Senhor Jesus intervém como aquele que justifica os salvos e anula a autorização, firmando a doutrina que impede o acesso de Satanás ao céu, para acusar os salvos, como aconteceu em Jó capítulos 1 e 2 e também o relatado em Zacarias 3.1 - "E ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe o acusar".


Cabe observar que, o foco de Satanás são os homens de maior intimidade com Deus em condição sacerdotal – Jó e sua integridade de fé, sacerdote de sua família; Josué – O sacerdote de Israel; Pedro – O Apóstolo.


Terceiro - no exercício do sacerdócio, Deus não permitiu a ação de satanás sobre aqueles que foram imbuídos de liderar seu povo, seja na antiga aliança (Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda; não é este um tição tirado do fogo?” Zc.3:2), quanto na nova aliança (“...Eu, entretanto, roguei por ti, para que a tua fé não se esgote;” Lc.22.32).
O apóstolo são João, em seus escritos, nos assegura que: “todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca." 1 Jo.5.18.
Dito isso, me parece impossível a afirmativa de muitos acusadores, que o Diabo tenha matado esses pastores.


Esse pensamento de que o Diabo está influenciando e matando pastores, se firma pela ESPIRITUALIZAÇÃO de tudo que contraria o “politicamente correto na igreja evangélica”, tornando as lideranças evangélicas no: Ou Deus ou o Diabo. O que não provem de Deus provém do Diabo. Nesse pensamento, o SER HUMANO não existe; Não é levado em conta.


Para não MATERIALIZAR o conteúdo com teses biológicas do ser humano, me reportarei à tricotomia que compõe o homem: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". 1Ts.5:23. A composição tricotômica do ser humano, biblicamente falando é composta de ESPÍRITO, ALMA e CORPO. A igreja, apesar de ser o lugar de tratamento da alma, tem se firmado e aprofundado em tratar da espiritualidade do homem, por meio da palavra de Deus, onde, nossos excelentes teólogos, pregadores e a “teologia motivacional” de formação de líderes e de conquista de sucesso financeiro tem ocupado o campo do ensino, negligenciando-se o TRATAMENTO DA ALMA – psique.


A espiritualização, seja de sucesso no pastoreio de uma “grande” igreja (quantitativa), seja numa vida “cheia do espírito”, na demonização dos problemas de saúde física, mental ou emocional, tem sido a tônica do entendimento dos crentes, onde, não cabe fracasso nem mal algum que aflija um Cristão.


Nessa linha, líderes evangélicos têm negligenciado o cuidado da Saúde física. Enquanto para o mundo “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”, para os cristãos, orar é o que interessa, o resto Deus cuida. ISSO NÃO É VERDADE!


Quando fui ordenado Pastor e assumi a primeira igreja, jejuei meses seguido a fio. Espiritualmente me sentia muito bem, porém, comecei a apresentar sérios problemas estomacais e no intestino. Ao relatar a outro pastor amigo sobre os sintomas que vinha sentido, ele me recomendou um médico evangélico para fazer acompanhamento. Na primeira consulta, ao relatar minha rotina de vida cristã, ele me perguntou quanto anos de ministério eu pretendia exercer. Respondi: Pro resto da vida! - Ele me disse: Então seu ministério será bem curto. No máximo uns dois ou três anos. Fiquei assustado! Ele me ensinou uma coisa: “Deus te amou sendo você ainda pecador. Não importa o quanto você se sacrifique, isso não aumentará em nada o valor que você tem para Deus”.

Eu estava destruindo meu corpo, fazendo sacrifício de tolo. Consagração não é sacrifício de tolo, mas descuidar da saúde, isto sim, é sacrifício de tolo. O cristão deve se dedicar ao jejum e oração, ir ao monte ou outras atividades referente a fé, respeitando sua limitação humana. Fora disso é sacrifício de tolo. “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”. Mt.9.13.

Muitos têm se frustrado ao não ver o resultado dos seus sacrifícios “espirituais”. Isso é fácil de explicar: “Determinados sacrifícios são formas inconscientes de se sentir merecedor das dádivas divinas”. Isso não cabe na GRAÇA. Nada podemos fazer para ser merecedor de qualquer favor de Deus. O único requisito é a fé.

Basta você jejuar e depois achar que Deus tem que te responder porque você jejuou. Sem contar aqueles que dizem: “Agora Deus vai me abençoar porque eu jejuei!” Ou seja: agora eu mereço essa bênção, eu mereço ter um ministério abençoado e de poder. Lembre-se que isso é inconsciente. NÃO FUNCIONA.

Nesse pensamento de consagração e espiritualização, a maioria dos líderes descuidam da saúde física, contraindo doenças e destruindo o templo do Espírito de Deus.

Querido líder que está lendo esse artigo, responda a si mesmo: Qual foi a última vez que você foi ao médico e fez um check-up? Cuidar da saúde física é cuidar do CORPO.

SAÚDE MENTAL: ALMA – “Tão somente cuida de ti mesmo e cuida bem da tua própria alma...” Dt.4.9. O cuidado da saúde mental é uma recomendação bíblica repetida em diversos textos, porém negligenciada pela maioria dos cristãos, principalmente pela falta de entendimento da tricotomia e a dificuldade de separar as funções da alma e do espírito.

Em meu livro Sarando as Feridas da Alma, trago um aprofundamento sobre essa temática, mas irei resumidamente clarear essa tese aqui.

O espírito - é a parte que possui ligação com as coisas espirituais ou com o mundo espiritual. O termo Rhuah, que pode significar sopro ou vento, indica o espírito do homem em Gênesis 2:7 – “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Sendo assim, o espírito foi insuflado nas narinas de Adão, e pelo espírito o homem ganhou a alma eterna, tornando-se, em definitivo à imagem e semelhança de Deus.

No Novo Testamento, escrito em grego - o termo para Espírito é "Pneuma", usado para se referir ao Espírito Santo, que possui o mesmo sentido de “Rhuah” no hebraico, gerando um vínculo em relação ao Espírito de Deus e o espírito do homem.

É por meio do espírito que o homem se identifica e se relaciona com Deus, visto que, o espírito é eterno – sendo a única parte da tricotomia que não está sob juízo: - “E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” Ec.12:7. Isso significa que, na morte, automaticamente o espírito separa-se do corpo, retornando para Deus. O corpo volta ao pó - seguindo, posteriormente, juntamente com a alma, para o juízo final – “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”. Mt.10:28.

A ordem dos tomos definida pelo Apóstolo Paulo em 1Ts 5.23 – “Espírito, Alma e Corpo”, aponta o grau de importância cronológica, sendo o ser humano, por essência espiritual. Daí se entende a necessidade dos homens buscarem, desde sempre, servir a uma divindade, mesmo que não conheça o Deus verdadeiro – Javé.

O Salmista Davi consegue externar essa necessidade de se relacionar com Deus, como a necessidade de respirar para viver: - “Assim como a corsa suspira pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” Sl.42.1,2. É como se a vida não tivesse sentido sem uma comunhão constante com Deus, e, é o espírito humano o responsável de alimentar esse desejo – “E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador”; Lc.1:47.

A alma - é um tema complexo, objeto de estudos divergentes e inconclusivos para filósofos, teólogos, psicólogos e etc. Por mais que pesquisemos, dificilmente encontraremos uma definição concreta e definitiva para alma.

Na fé cristã, o cuidado da alma é o principal “objeto” da espiritualidade. Porém, o que é a alma? Qual a finalidade dela na tricotomia? Porque se fala tanto nela e se conhece tão pouco dela?
Pessoalmente não tenho a intenção de dar uma definição como verdade absoluta do assunto, mas vou desenvolver uma linha de pensamento sob a ótica teológica e psicanalítica, visando, no final, trazer o entendimento de que, tanto à teologia quanto à psicanálise – uma vez associadas, podem atingir um fim proveitoso para a cura da alma, “reprogramando” a mente e, consequentemente, produzindo resultados espirituais. - “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma” 3Jo.1:2.

A expressão alma é um termo que no hebraico do Velho Testamento é - néphesh: dá o sentido literal de “respiração da vida”; No grego do Novo Testamento é psykhé: termo que indica a vida física e racional do homem.
Etimologicamente, deriva do termo latino animu (ou anima), que significa "o que anima". Seria a fonte da vida de cada organismo, sendo eterna e separada do corpo. Alma não é o mesmo que espírito.

Na Bíblia, os vários sentidos da palavra alma, tais como - sangue, coração, vida animal, pessoa física, etc., devem ser interpretados segundo o contexto da escritura em que está contida a palavra “alma”.

Em relação ao ser humano, a alma é o princípio inteligente que anima o corpo e usa os órgãos e seus sentidos físicos como agentes na exploração das coisas materiais, para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior.

A Alma e o Plano da Salvação - A morte de Jesus tem como objetivo a salvação da alma, a salvação do “eu”, daquilo que me define como ser existente - a alma vivente descrita em Gn.2.7. Nesse ponto, entra o conhecimento psicanalítico que vai definir a composição da alma para chegar no “EU”.

Para a medicina, enquanto o cérebro está funcionando, a pessoa está viva. A morte cerebral ocorre quando não há mais nenhum tipo de atividade cerebral, seja elétrica - dos micro-impulsos entre os neurônios, circulatória ou metabólica. Biblicamente falando, refere-se à separação corpo/alma - “...e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu” 1Rs.17:21,22.

O cérebro é a estrutura física - o órgão responsável pelas atividades cerebrais e metabólicas, que controla tudo o que um indivíduo faz. A mente é a parte imaterial, invisível e não palpável. Podemos dizer que o cérebro é o elo de ligação da alma com o corpo.

Quando somos alcançados pela graça de Deus, o primeiro tomo da tricotomia a sofrer mudança é a alma. Na linguagem cristã, o termo é – Conversão: do Latim, converterE - “virar, transformar”, de COM, “junto”, mais VERTERE, “virar, torcer”. O sentido é convergir, mudar de direção. No caso da fé, é uma mudança radical naquilo que cremos: Conceito de Deus; E naquilo que fazemos: Conceito de pecado. “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê;” Rm.1.16.

Essa mudança de conceito se processa na mente – Alma: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Rm.12.2. A salvação converge o homem da forma do mundo para a forma de Deus, através da mudança da mente – único meio de experimentar uma verdadeira relação com Criador.

Como vimos, é na mente que alojamos todas as informações que definem nosso caráter e determinam nossas ações. A conversão de conceitos implica numa nova visão sobre o pecado, nos levando a santidade.

A busca do conhecimento da palavra de Deus formará os novos conceitos e guiará o homem à vontade dEle – (“A palavra em vós enxertada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” Tg.1:21), gerando a fé.

Paulo nos ensina que a fé vem pelo ouvir – “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. Rm.10.17. Tudo que ouvimos, passa a ser informações, que serão recebidas e processadas na mente, transformando-se em conceitos. Uma vez formados os conceitos, entra em ação as atividades cerebrais que receberão esses conceitos para torná-los em ações. No cérebro, essas informação passam por um novo processamento, agora nos campos da razão e da emoção. Para melhor compreensão desse processo, é importante entender como funciona o cérebro. Basicamente, existem duas partes no cérebro que são responsáveis pelo processamento das informações: O Sistema Límbico - responsável por nossas emoções (Numa emergência o sistema límbico que já foi treinado, dispara os impulsos necessários de autodefesa) e o Neocortex - que é o responsável por processar as informações lógicas - inteligência. Depois de processado nesses campos, essas informações serão direcionadas para o emocional ou para o racional, dependendo do indivíduo.

Se a pessoa é racional, essas informações serão úteis e definirá o caráter do indivíduo como uma pessoa centrada. Se é uma pessoa emocional, a tendência é canalizar essas informações para a emoção, levando, muitas vezes, aos recalques, frustrações, as decepções e etc.

Todo esse processo de mudança é teologicamente chamado de santificação – separação para Deus. Numa linguagem paulina, a definição é: Desenvolver a Salvação - “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” Fl.2.12. Um dos sinônimos de desenvolver é: Aumentar as faculdades intelectuais, expandir o conhecimento – “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” 2Pd.3.18. Novamente voltamos para a alma, local de absorção, alojamento do conhecimento, processamento de mudanças e comando das ações. A salvação só pode ser processada na mente, mediante o conhecimento que se tem da palavra de Deus – “Vós examinais criteriosamente as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testemunham acerca de mim” Jo.5.39.

Para muitos cristãos, se avalia a espiritualidade ou santidade de alguém pela manifestação de dons e de poder, porém, é o maior engano. A espiritualidade se avalia pela santificação por meio da palavra – "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado." (Jo.15.3), “a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra,” Ef.5.23. Não há manifestação de dom ou de poder sem conhecimento da palavra. Em geral, esses cristãos que procuram mostrar grande espiritualidade por meio dos dons, têm pouco ou nenhum conhecimento bíblico, e sua santidade é superficial. Não têm fundamento e logo desviam-se da fé. Aqui está o grande sentido de Marcos 12.24 – “Então Jesus os admoestou: Não é sem motivo que errais tanto, pois não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus!”. Pela ordem - as escrituras vem primeiro, depois o poder. A base do poder é a escritura. É ela quem fundamenta os dons e o poder.
Creio que esse resumo clareia um pouco essa diferença alma/espírito. Agora, veremos outra abordagem sobre a alma: A alma na psicanálise.

...guarda a tua alma das angústias”. Pv.21.23

Antes de qualquer coisa, a psicanálise é uma teoria que pretende explicar o funcionamento da mente humana. Além disso, a partir dessa explicação, ela se transforma num método de tratamento de diversos transtornos mentais.

Quando o assunto é a psique, dois fundamentos se destacam na teoria psicanalítica: Consciente e Inconsciente.
O consciente - indica uma visão mais superficial da personalidade e atitudes - as racionais, pensadas de forma clara por nós. Nesse processo, a consciência não é mais do que uma fração de nossa vida psíquica total;

O inconsciente - os processos psíquicos são, em sua imensa maioria, inconscientes - Ou seja: toma conta de toda parte inexplicável, aquilo que está submerso, nossos instintos e desejos mais profundos, propulsores da nossa existência. Tais processos psíquicos inconscientes são dominados por forças libidinais. - A libido é a força que move o ser humano na obtenção de prazer, evitando assim o desprazer. “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.” Rm.7.17.

A psicanálise compreende as grandes manifestações da psique como um conflito entre as tendências libidinais e as fórmulas morais e limitações sociais impostas pelo indivíduo. “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” Rm.7.19.

Uma vez que a obtenção do prazer não pode ser alcançada, logo será recalcada no inconsciente do indivíduo. Esses conflitos dariam origem aos sonhos, que seriam as expressões deformadas ou simbólicas de desejos reprimidos.

A psicanálise divide a mente humana em três partes: 1 - O id, isto é, os impulsos múltiplos da libido, dirigidos sempre para o prazer; 2 - o ego, que se identifica à nossa consciência; 3 - o superego, que é a nossa consciência moral, o guardião dos princípios sociais e das proibições que nos são inculcadas nos primeiros anos de vida e que nos acompanham de forma inconsciente a vida inteira. Ele também age inconscientemente, censurando os impulsos e desejos.

Pode se dizer que, para a psicanálise a mente é uma engrenagem, que funciona e rege a vida do indivíduo. É nela que se forma e define o caráter e a personalidade de cada ser – o “eu”.
Especificamente, a psicanálise, quando associada aos princípios bíblicos, pode contribuir e muito no tratamento da alma. Acredito que a profecia de Isaías se encaixa bem nesse processo: “E os que de ti procederem edificarão as ruínas antigas, e tu levantarás os fundamentos de muitas gerações, e serás chamado reparador da brecha, e restaurador de veredas para morar" (Is 58:12). O psicanalista escava as ruínas antigas, levanta os fundamentos de  gerações, repara brechas e reconstrói veredas.

Visto o tema sob a ótica teológica e psicanalítica, passemos as doenças emocionais. Quando decidi estudar psicanálise, no processo de formação, fui descobrindo respostas para os conflitos pessoais que não compreendia a razão de não conseguir superá-los por meio de uma vida santificada.

Foram incontáveis as noites que saia após o culto, deixava a esposa e filhos em casa e dirigia feito um louco noite adentro, chorando, angustiado e confuso, até que a gasolina estivesse acabando. Voltava para casa, estacionava na garagem e dormia no carro.

Lembro-me de numa noite estar tão confuso que arranquei o galho de uma arvore com uma força tão brutal que não seria possível fazer isso de mãos nuas.

Em outra ocasião, esmurrei o parabrisa do carro, despedaçando o vidro. Isso é quase que impossível de se fazer dirigindo.

Hoje consigo entender facilmente o que está acontecendo, especialmente relacionado a questão do suicídio de pastores.

A principal causa apresentada por estudiosos da área de saúde mental, está relacionada a SÍDROME DE BURNOUT – um estado de tensão emocional e estresse crônico que provoca intensos desgastes físicos e psicológicos, causados por acúmulo de tarefas, cobranças excessivas, perfeccionismo e foco no trabalho como fonte exclusiva de prazer.

As categorias mais atingidas são as que lidam com pessoas e se expõem ao sofrimento humano. O Sacerdócio está em primeiro lugar, seguido de Policiais, professores e profissionais de saúde.

Características da doença
Exaustão - Conforme pesquisa do Isma-Brasil 97% apresentam: fraqueza, dores musculares, dores de cabeça, náuseas, alergias, queda de cabelo, distúrbios do sono e diminuição do desejo sexual; 
91% - apresentam: desesperança, solidão, raiva, impaciência e depressão;
85% apresentam: raciocínio lento, memória alterada e baixa autoestima.

Despersonalização: Em geral, os portadores da síndrome Burnout tornam-se céticos e mal-humorados, tendem a se isolar, apresentam distúrbio emocionais e negativismo.
Baixa produtividade: A insatisfação pessoal leva o indivíduo a baixa produção e desvalorização daquilo que faz. A queda no rendimento levanta dúvidas quanto à própria capacidade. Outros sintomas predominantes são: agressividade, ataques de ira, diabetes, cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão. A totalização desses sintomas resulta em esgotamento total.

A Síndrome de Burnout tem como principal causa o perfeccionismo, que leva à busca de uma excelência às vezes impossível. No caso dos sacerdotes, a busca de uma vida como referencial para os membros da igreja é a base de suas atividades.
A falta de reconhecimento, as críticas constantes e “fofocas” envolvendo seu nome, são os principais gatilhos para Burnout.

Depressão e Burnout - A dificuldade de diagnosticar a Burnout, pode ser confundida com depressão. Cabe lembrar que nos relatos recentes de suicídio entre sacerdotes - pastores e os padres, os mesmos apresentavam quadro de depressão e uso de medicação.

O uso de antidepressivo ameniza os sintomas, mas não trata a causa. Para que o tratamento seja eficaz, requer o afastamento das atividades, descanso e psicoterapia. 
A qualidade de vida é uma das armas para prevenir a Síndrome de Burnout. E isso inclui cuidar da saúde, dormir e alimentar-se bem, praticar exercícios físicos e manter uma vida social bem ativa.
A síndrome de Burnout, foi descoberta pelo psicanalista americano Herbert Freudenberger em 1974.

Assim, é recomendável que os pastores e líderes que identifiquem em si os sintomas acima relacionados, revejam suas rotinas de atividades, façam check-up, tirem férias, programem atividades esportivas e, acima de tudo, busquem tratamento psicoterapêutico.

Preocupada com o crescimento dos problemas emocionais e mentais que vêm se agravando, a Igreja Metodista do Brasil em Paranavaí/PR, criou um espaço para atendimento de seus líderes, membros e a sociedade local, onde presto atendimento. A realidade clínica nesses atendimentos têm produzido resultados extraordinários na qualidade de vida emocional, mental e espiritual dos atendidos, mostrando que, associar a terapia psicanalítica à saúde da igreja, contribui, grandemente, para uma igreja mais sólida e com qualidade de vida total do que o evangelho pretende.

Creio ser fundamental que as denominações evangélicas invistam mais na saúde mental e emocional dos pastores, de suas esposas e filhos, pois todos são potenciais candidatos a síndrome de Burnout, e, consequentemente, “os próximos suicidas”.

Pastor: "tem cuidado de ti mesmo...". 1Tm.4.16.

Osésa Rodrigues de Oliveira
Psicanalista Clínico – Pós Graduado em Psicanalise Aplicativa
Bacharel em Teologia.


 Assista o vídeo abaixo abaixo sobre Burnout




sábado, 13 de janeiro de 2018

Você sabe o que é ACATISIA?

Na acatisia o paciente não consegue ficar parado, movimentando-se constantemente. Apresenta-se irritado, inquieto com movimentos repetitivos.

A acatisia induzida por antipsicóticos é um transtorno de movimento relacionado ao sistema motor e caracterizado por sensação subjetiva de inquietude interna, irritabilidade ou disforia que podem ser intensas.  Associa-se à sensação física e objetiva de desassossego e a movimentos não discinéticos, incluindo balanço alternado dos pés, caminhar no mesmo lugar, movimentos no sentido ântero-posterior do tronco ou balanço alternados das pernas quando sentado. Nos casos graves, os pacientes levantam-se e abaixam-se como tentativa de aliviar o sofrimento causado pela sensação de desassossego. 

Causas
Efeito adverso provocado pelo uso de antipsicóticos.

Principais sintomas da acatisia: 

  • Ansiedade;
  • Inquietação – Balanço alternado dos pés, caminhar no mesmo lugar, o paciente marcha o tempo todo;
  • Parestesia – sensação anormal e desagradável sobre a pele como coceira queimação, dormência;
  • Irritabilidade;
  • Agitação psicomotora e;
  • Vontade de mover-se todo o tempo.

O escritor e criminoso americano Jack Henry Abbot descreveu, em 1981, os efeitos da acatisia produzida por antipsicóticos:


As drogas dessa classe não acalmam nem sedam os nervos. Elas atacam. Elas atacam do fundo de você, você não consegue localizar a origem da dor… Os músculos da sua mandíbula ficam descontrolados, então você começa a morder a boca por dentro, a mandíbula trava e a dor palpita. Durante horas, todos os dias, isso acontecerá. Sua coluna vertebral endurece tanto que você mal consegue mexer a cabeça ou o pescoço, e, às vezes, suas costas se curvam como um arco, e você não consegue ficar em pé. A dor "mói" os seus nervos… Você sofre com a inquietação e sente que tem que andar, caminhar. E então, assim que você começa a caminhar, o oposto acontece: você precisa se sentar e descansar. Na frente, atrás, em cima, embaixo, você continua com uma dor que não consegue localizar, uma ansiedade desgraçada que te esmaga, porque você não sente alívio "nem respirando".
—Jack Henry Abbot

Em relação à classificação, a acatisia pode ser classificada como aguda e crônica, de acordo com o tempo de aparecimento dos sintomas, que está relacionado à dosagem do antipsicótico. Barnes & Braude definem acatisia aguda como aquela cujos sintomas tenham ocorrido nos primeiros seis meses após a introdução do antipsicótico ou o aumento de sua dosagem. Em contraste, acatisia crônica é definida como aquela cujos sinais e sintomas não tenham ocorrido em associação ao aumento de dose de antipsicótico. 
Dados epidemiológicos revelam que a prevalência de acatisia em indivíduos tratados com antipsicóticos varia de 20% a 75%, ocorrendo mais frequentemente nos três primeiros meses da farmacoterapia. Sua ocorrência associa-se não somente à administração aguda do antipsicótico, mas também ao recente aumento da dose, acometendo principalmente indivíduos jovens, independente do sexo. Outros fatores de risco associados à ocorrência de acatisia seriam a potência terapêutica do antipsicótico e a via de administração do fármaco.
A acatisia pode ser confundida com agitação psicótica ou ansiedade, principalmente se o indivíduo descreve sensação subjetiva de "estar sendo controlado por forças externas".  Dentre as suas principais complicações, encontra-se a disforia que, em casos mais graves, pode predispor ao suicídio. Além disso, esse efeito adverso pode contribuir para a pobre adesão do paciente ao tratamento, favorecer recaídas e agravar o prognóstico.
A fisiopatologia da acatisia induzida por antipsicóticos permanece desconhecida. Dentre as hipóteses propostas, o antagonismo entre as vias dopaminérgicas mesolímbicas e mesocorticais parece constituir hipótese plausível, mas não completamente satisfatória. A idéia de que o bloqueio dopaminérgico predisporia à emergência dos sintomas de acatisia foi sustentada por estudos de PET-Scan conduzidos por Farde et al. Segundo essa hipótese, fármacos que reduzissem os sintomas extrapiramidais, advindos do bloqueio dos receptores dopaminérgicos D2, deveriam ter efeito terapêutico também na acatisia. 
A eficácia dos betabloqueadores no tratamento da acatisia tem sido explicada com base na hipótese de sua ação antagônica aos efeitos inibitórios da descarga noradrenérgica sobre a área tegmental ventral (origem do sistema dopaminérgico mesolímbico e mesocortical), o que levaria ao aumento da neurotransmissão dopaminérgica.
O envolvimento do sistema GABAérgico pode ser explicado pela suposta ação terapêutica de agentes anticolinérgicos e benzodiazepínicos na acatisia induzida por antipsicóticos. O bloqueio dopaminérgico na via nigroestriatal predisporia ao aumento da neurotransmissão colinérgica e subseqüente diminuição da neurotrasmissão GABAérgica. 
As intervenções terapêuticas disponíveis para o tratamento da acatisia induzida por antipsicóticos baseiam-se nas hipóteses fisiopatológicas citadas e incluem o uso de betabloqueadores, drogas anticolinérgicas e benzodiazepínicos.
A acatisia é um efeito adverso dos neurolépticos (antipsicóticos), tais como as butirofenonas (Haldol), e não deve ser confundida com manifestações motoras ligadas à ansiedade.

Estudos mostram que betabloqueadores, benzodiazepínicos e anticolinérgicos são eficazes para controlar temporariamente os movimentos involuntários, sendo os betabloqueadores de ação central os mais eficazes no tratamento causado por antipsicóticos.
É normal que nos casos de depressão, ansiedade e distúrbio do sono, a pessoa queira um resultado imediato. Pata tal, o uso de medicação tem uma resposta no trato dos sintomas. O tratamento da causa requer tempo.  
Quando o indivíduo tiver uma consulta psiquiátrica, é recomendável passar por mais de um especialista, para avaliar o tipo de medicação que está sendo prescrito.
Devido não ter encontrado nenhum vídeo brasileiro que trata do assunto, sugiro que assista o vídeo abaixo.

Drogas psiquiátricas são muito mais perigosas do que você jamais poderia imaginar.


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Tratamento Espiritual & Tratamento Psicanalítico

Uma comparação para uma compreensão


Muitos Cristãos estão recorrendo ao consultório psicanalítico para tratar seus problemas emocionais, haja vista, o número de “pastores” sem preparação teológica, e muito menos para lidar com os problemas emocionais das pessoas que recorrem à igreja em busca de refrigério para os anseios da alma.
O movimento celular defende que cada pessoa é um líder, e, ao conseguir reunir um pequeno grupo, esse líder sai do ministério que pertence com meia dúzia de pessoas, monta sua igreja própria e se auto intitula “pastor”.
O mesmo acontece nos movimentos pentecostais e neopentecostais, onde não há requisito ou critério na ordenação pastoral.
A busca de uma vida espiritual elevada por meio da oração, do jejum e busca de poder, são as condições fundamentais para o desenvolvimento espiritual, sem nenhum ensino referente ao tratamento da alma.
O pecado é tratado a base da repressão e da censura do pecador, sem nenhuma compreensão de psiquê e o comportamento como pecado.
Pense sobre o quadro abaixo:

Na Igreja                                                              Na clínica Psicanalítica

Alma                                                                     Psiquê
Pecador                                                                Paciente
Pecado                                                                 Comportamento
Santificação                                                          Repressão/Recalque
Consagração                                                        Tratamento/Terapia
Santidade                                                              Cura da alma.

Nesse movimentos, nenhum pastor é obrigado a ter conhecimento psicoterapêutico, mas, no mínimo, deveria conhecer a tricotomia que compõe o ser humano, e buscar conhecimento sobre os tratamentos do corpo e da alma.
A teologia transmite a compreensão das escrituras, e, apesar de a bíblia tratar amplamente sobre a alma, poucos são os líderes que estão preparados para lidar com ela.

Alma: Psiquê - “Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma...” Dt.4.9. A expressão alma é um termo que no hebraico do Velho Testamento é - néphesh: dá o sentido literal de “respiração da vida”; No grego do Novo Testamento é psykhé: termo que indica a vida física e racional do homem. Etimologicamente, deriva do termo latino animu (ou anima), que significa "o que anima". Seria a fonte da vida de cada organismo, sendo eterna e separada do corpo. Alma não é o mesmo que espírito.
Na Bíblia, os vários sentidos da palavra alma, tais como - sangue, coração, vida animal, pessoa física, etc., devem ser interpretados segundo o contexto da escritura em que está contida a palavra “alma”.
Em relação ao ser humano, a alma é o princípio inteligente que anima o corpo e usa os órgãos e seus sentidos físicos como agentes na exploração das coisas materiais, para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior.

Pecador: espiritual e teologicamente falando, o termo faz referência àquele que comete pecado.
Na psicoterapia, o pecador é recebido e tratado como um paciente, como uma pessoa que precisa aprender a lidar com suas atitudes, e, principalmente com o sentimento de culpa, que, em muitos casos, é o fator predominante das doenças emocionais.

Pecado: O pecado é uma ação “voluntária” ou não, que fere princípios da vontade e da palavra de Deus.
No estudo psicanalítico do comportamento, compreendemos o pecado como atitudes, fruto da formação do caráter, da identificação familiar, da formação dos conceitos, podendo ser ações conscientes ou inconscientes - instintivas.
O objetivo da psicoterapia é conhecer a psiquê, afim de tratar a origem do comportamento e dos traumas, que são responsáveis por comportamentos e a repetição de pecados, que muitas vezes fogem à compreensão.
Apesar de tratar o pecado como comportamento, o terapeuta cristão consegue fazer o devido ajustamento dos termos, sem minimizar o mal espiritual do pecado.

Santificação: na teologia é o processo que leva à uma forma de vida onde o indivíduo tem o domínio sobre o pecado.
Devido à falta de preparação e conhecimento, a maioria dos líderes evangélicos, tentam levar os cristãos à santidade, mais por repressão ou recalque do que por convencimento de uma vida santa para Deus.

A repressão é o processo psíquico através do qual o sujeito rejeita determinadas representações, ideias, pensamentos, lembranças ou desejos, submergindo-os na negação inconsciente, no esquecimento, bloqueando, assim, os conflitos geradores de angústia.

O Recalque: Denota um mecanismo mental de defesa contra ideias que sejam incompatíveis com o eu.

Consagração: prática do jejum e da oração como forma de obter maior intimidade com Deus, resultando numa vida mais pura, santa e cheia de poder e unção do Espírito Santo.
Essa dedicação é, por si só, uma forma de vencer todos os sofrimentos físicos e espirituais - o Diabo e seus demônios, e vencer todos os traumas e males emocionais e mentais.
Na psicoterapia, quando a pessoa reprime/recalca seus sentimentos, desejos e culpas, se utilizando de mecanismos de defesa como a sublimação ou a negação, simplesmente está gerando uma somatória de sentimentos de culpa, desejos e desconfortos emocionais e psicológicos, tornando-se um vulcão pronto a uma erupção.
Num determinado momento, um gatilho emocional pode desencadear uma série de distúrbios, provocando ataques de ansiedade, depressão, culpa ou vergonha.
Pode ser difícil identificar o que exatamente é um gatilho emocional, mas a melhor forma de curá-lo ou lidar com ele, é conhecer os traumas que o causaram.
Todos, quando criança, inevitavelmente experimentam dores ou sofrimentos que não reconhecem e nem sabem como lidar com eles. Quando adultos, criam gatilhos para as experiências que lembram esses momentos dolorosos vivenciados na infância, como forma de melhor gerir esses sofrimentos.
Identificar os gatilhos, é o primeiro passo para curá-los. 
Mesmo o cristão mais espiritual tem gatilhos que, em dado momento, podem ser acionados, desencadeando sentimentos e comportamentos.
A ameaça de Jesabel ativou um gatilho mental/emocional em Elias, levando-o a uma depressão profunda.

Santidade: no hebraico – Kadoshi, no grego “agios” que na origem significa separado. No AT, está mais relacionada ao ritualismo, tanto do sacrifício como a pureza do “imundo”: lepra, animais impuros, tocar o morto ou o período menstrual da mulher. Em Is.1.11-17, santidade volta-se para além do ritualismo e passa a ser visto como uma mudança de comportamento. No NT, a expressão santidade ganha o verdadeiro sentido. Mt.15.11,18,19 afasta definitivamente o imundo (ritualismo), para a verdadeira santidade: a pureza dos pensamentos e das palavras.
A santidade está mais ligada à cura da alma do que ritualismos e proibições. Dai porque os crentes estão encontrando mais satisfação e bem estar nas terapias do que nos cultos.
Na igreja, em geral, o pecador não é bem visto, normalmente é recriminado, censurado e sentenciado ao inferno. Se o cristão, membro de uma igreja pecar, estará debaixo do julgamento dos demais.
Muitas vezes, o gabinete pastoral é a instância final do julgamento e da sentença, dai o porque de muitos cristãos estarem vivendo sérios problemas emocionais. Não são tratados e sofrem de elevado sentimento de culpa pelos pecados escondidos.
Dependendo da forma que for avaliado por seu líder espiritual, muitos preferem não mais confiar seus conflitos e pecados, e passam a viver sua luta contra o pecado sozinho.
No consultório psicanalítico, o mesmo pecador é ouvido sem censura, sem repressão, mas como uma pessoa que precisa ser tratada.
O terapeuta irá atuar no tratamento da psique (alma), para compreender o comportamento (pecado) e tratar as feridas emocionais (sentimento de culpa), que provoca doenças emocionais e psíquicas.
Como mencionei acima, quando se trata de psicoterapeuta cristão, o pecado, apesar de tratado como comportamento, não perde a condição de pecado, o que não acontece com um terapeuta que não tem uma percepção da fé cristã.
Pessoalmente recomendo que um cristão que busque ajuda profissional na área de psicoterapia, deve, antes de iniciar seu programa terapêutico, conhecer o profissional, que é, por questões éticas, obrigado a respeitar as crenças do paciente.
Assim, os “pastores” deveriam ter, no mínimo, uma base de conhecimento na área terapêutica, para identificar os sintomas de distúrbios emocionais e comportamentais, para melhor desenvolver seu chamado ministerial e, verdadeiramente, ser um cuidador de almas. Esse conhecimento, contribuiria - e muito, no equilíbrio emocional do próprio pastor e na saúde emocional e mental de seus familiares.
Observemos que os suicídios de pastores ocorridos recentemente, são, em sua maioria, pastores extremamente pentecostais, a ramificação evangélica com maior rejeição aos tratamentos psicoterapêuticos e os que mais espiritualizam as doenças emocionais.
Não estou aqui generalizando, mas vejo com preocupação o quadro emocional da igreja, e, principalmente, dos que estão à frente do rebanho de Deus.
O julgamento desses movimentos é tão absurdo, que muitos já condenaram os pastores que cometeram suicídio, ao inferno, e atribuem ao diabo o suicídio, e que esses suicidas estavam em pecado. Descartam qualquer quadro de distúrbio emocional, como se esses líderes não fossem humanos.
Como psicanalista e psicoterapeuta, li detalhadamente todos os casos de suicídio de pastores e padres nos últimos três anos, e, com exceção de um padre e de um pastor (que não foram mencionados distúrbios emocionais ou psicológicos), os demais encontravam-se sob tratamento da depressão.

Osésa Rodrigues de Oliveira
Pastor e Psicanalista Clínico

Pós Graduado em Psicanálise Clinica.