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terça-feira, 17 de abril de 2018

FILHOS DE PASTORES, Os canários da mina de carvão




Contudo, se alguém não cuida dos seus, especialmente dos de sua própria família, este tem negado a fé e se tornou pior que um descrente. 1Tm.5.8.




Esta semana recebi a ligação do filho de um pastor, em aflição na alma. Uma frase dita por ele, jamais esquecerei: “nunca mais porei os pés numa igreja”. Parece absurdo, mas essa é a realidade de uma grande maioria de filhos pastores.
Algumas igrejas sobrecarregam seus pastores, levando-os para longe de suas famílias, criando raiva e ressentimento nos filhos em relação à igreja.


OS FILHOS DE PASTORES QUE SE AFASTAM DA FÉ NÃO PODEM SER JULGADOS E CONDENADOS. MUITAS VEZES OS QUE JULGAM SÃO OS RESPONSÁVEIS PELO AFASTAMENTO.

Os filhos dos pastores estão numa posição privilegiada para ver a realidade por trás da fachada brilhante, e a proximidade com o próprio pastor lhes dá um lugar na primeira fila tanto para conflitos quanto para hipocrisia. Pior de tudo, os filhos dos pastores geralmente veem seus pais sendo feridos e frustrados pelos membros da igreja, pela liderança local e pelos líderes da estrutura denominacional. Tudo isso contribui para gerar frustração e decepção sobre igreja e Deus na formação do caráter dessas crianças, fazendo com que eles se afastem, muitas vezes com raiva, de uma fé que oferece graça e perdão.
Não se pode generalizar, nem todas as igrejas são abusivas. No entanto, todas lidam com esse tipo de conflito. Mesmo as igrejas que procuram tratar essa questão da maneira mais bíblica possível, ainda assim muitos filhos de pastores tendem a deixar a fé.
Não é sensato que tentemos julgar o estado eterno de uma pessoa com base em comportamento temporário. Quando uma pessoa deixa a fé, pode ser simplesmente uma fase, ou uma parte necessária de sua jornada em direção a Deus.  Até que uma pessoa morra rejeitando a Cristo, podemos sempre esperar que ela retorne a Ele (1 Coríntios 13: 7). No entanto, isso não explica a alta porcentagem de filhos de pastores que optam por se afastarem da fé.

OS FILHOS DOS PASTORES NÃO DEVEM VIVER OS PROBLEMAS DA IGREJA

Apesar desses conflitos, o pastor deve ter equilíbrio para preservar o psicoemocional dos filhos em relação a igreja e a Deus. Muitos homens na bíblia, colocaram o ministério como mais importante que a família. O que dizer de Samuel? onde ele estava quando seus filhos perderam o rumo? Entretanto, os filhos de Samuel não seguiram o seu exemplo. Ao contrário, deixaram-se seduzir e orientar-se pela ganância, aceitaram suborno e perverteram a lei e o direito. (ISm.8.3).
Este é o mesmo Samuel que a bíblia afirma: “...e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra.” 1 Sm.3:19. A dedicação ao chamado de Deus não significa descuido dos filhos e nem que Deus vai impedir que eles se frustrem ou caiam.
O pastor deve resguardar que seus filhos sejam literalmente criados NA e PELA igreja. A realidade é que eles estão imersos na atmosfera da igreja de uma forma que outras crianças cristãs não estão. Eles vivenciam de perto e pessoalmente todos os problemas da igreja: as partes que funcionam e as partes que não funcionam.

O FILHOS DE PASTORES NÃO SÃO MODELOS PARA IGREJA

Outra pressão que os filhos de pastores vivem e que as crianças cristãs "comuns e normais" não experimentam é conhecer e entender a Deus e a igreja. Os filhos dos membros da igreja não precisam se identificar com Deus e com a igreja. Eles podem se dar ao luxo de ter uma postura mais distanciada em relação a isso. Não é assim com os filhos do pastor. Eles precisam conhecê-lo intimamente. É possível que, quando confrontados com um sistema inerentemente defeituoso ou contraditório, os filhos dos pregadores, em seu sincero e profundo desejo de compreender, tenham uma resposta natural de frustração e dúvida. Isso, por sua vez, talvez seja recebido com medo pelos pais, que entendem mal a frustração e a dúvida do filho como uma rejeição a Deus e a si mesmos, resultando em um ciclo vicioso que termina quando o(s) filho(s) finalmente rejeita a fé.
Numa manhã de domingo, eu assistia a aula da escola dominical dos adolescentes quando o professor fez uma pergunta. Não havendo quem respondesse, alguns alunos pressionaram meus filhos alegando que, por serem filhos do pastor, tinham a obrigação de saber. Levantei-me e rebati aquele pensamento entre os adolescentes da igreja, não permitindo que meus filhos fossem tratados como obrigados a serem melhores que os demais. Meu pensamento foi proteger meus filhos dessa ideia que deveriam ser melhores, mais conhecedores e mais santos, sendo padrão para os demais.
Os filhos de pastores devem ser criados como qualquer outro ser humano, para que, seja em seus acertos ou erros, venham conhecer a Deus por suas próprias experiências, não por imposição, repressão e, principalmente, por censura.

OS FILHOS DOS PASTORES NÃO SÃO O REFERENCIAL DA REPUTAÇÃO E SUCESSO DO PAI.

O legalismo também desempenha um papel importante para os filhos dos pastores se afastarem da fé. Muitos filhos de pastores sentem grande pressão para serem bons cristãos, como forma de proteger a reputação de seu pai e como forma de agradá-lo. Esta é uma receita para o desastre, se os filhos não forem capazes de entender a verdade do evangelho - que nenhum de nós pode ser perfeito. Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. (Rm.3:10) e que todos são salvos não por suas boas ações, mas pelas de Cristo: Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. (Rm.8: 1-4). 
Infelizmente, muitas igrejas evangélicas hoje são caracterizadas por esse dilema: as pessoas têm uma compreensão muito boa do que é exigido espiritual e socialmente, mas uma má compreensão do evangelho. Este é o resultado natural de um sistema que coloca muita ênfase no desempenho, serviço, moralidade, doações, missões e responsabilidade social, e não ênfase suficiente na dependência, incapacidade, humildade e submissão ao Espírito. 
É muito possível que os filhos dos pastores sejam os proverbiais "canários da mina de carvão" nos dizendo que é hora de reexaminarmos o modo como fazemos a igreja, as mensagens que as congregações estão recebendo da liderança e a forma como apresentamos o evangelho.
Canários da mina de Carvão - a expressão deriva da prática antiga e comum de levar canários para minas de carvão, caso estivesse presente um gás venenoso, como metano ou monóxido de carbono em excesso, o canário morreria antes de este afetar os mineiros, servindo assim como um aviso avançado da presença de um perigo iminente.
Enquanto o canário em uma mina de carvão continuar cantando, os mineiros estarão seguros. Um canário morto em uma mina de carvão sinaliza uma evacuação imediata.

ALERTA:

Querido colega de ministério, não deixe que seus filhos sejam os canários das minas de carvão, sendo o sinal de alerta das toxinas espirituais, para a igreja. Não jogue seus filhos a morte para salvar seu ministério e muito menos outras pessoas. Esse sacrifício Jesus já fez.
Como psicoterapeuta, tenho acompanhado filhos de pastores, feridos, envolvidos em homossexualismo, relações promíscuas, drogas e todos os tipos de desvios de conduta moral e espiritual, sem mesmo que seus pais saibam. E não sabem porque não querem saber, estão ocupados demais com a igreja para perceber o desespero da alma de seus filhos.
Não despreze os sinais que eles estão dando de que necessitam de sua atenção. Quando os canários das minas param de cantar, é porque já morreram.

Osésa Rodrigues de Oliveira
Pastor e Psicanalista Clínico
044-997601317.


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