Primeiro - é considerado abandono quando o paciente, por decisão pessoal, sem o conhecimento do terapeuta, tendo comparecido a pelo menos uma sessão, interrompe o tratamento, independente do motivo. Abandono significa o encerramento prematuro do tratamento, no qual o terapeuta tem um programa terapêutico com um número predefinido de sessões e é surpreendido pela deserção do paciente.
Segundo - o abandono em psicoterapia refere-se àquelas situações de interrupção do tratamento sem que haja indicação do terapeuta para tal. Isso significa que não cumprir um número determinado de sessões, classifica o paciente como “abandonante”, interrupção que pode ocorrer, inclusive, "pela própria percepção de melhora por parte do paciente".
Nesse caso, o paciente não tem a percepção que o abandono ou interrupção do processo terapêutico, é uma situação que acarretará implicações sérias nas trajetórias de sua saúde mental.
Terceiro - foi detectado que o abandono precoce do tratamento, dificultou o desenvolvimento da relação paciente/terapeuta.
Quarto - Muitos pacientes que não retornaram para o atendimento em saúde mental ou abandonaram prematuramente a psicoterapia, acabaram solicitando retorno de atendimento, necessitando reiniciar o processo diagnóstico. No geral, o processo de retorno resulta no agravamento dos casos, na insatisfação profissional e em maior gasto econômico.
Quinto – identificou-se que na maioria dos casos, o nível socioeconômico foi fator frequente de abandono psicoterápico.
Sexto – outro fator apontado foi o nível educacional. Pacientes com baixo nível de formação educacional, não conseguiram se aprofundar nos procedimentos terapêuticos ou deram pouca importância ao tratamento.
Sétimo – foi perceptível que algumas características de personalidade tais como: baixa motivação, agressividade, isolamento social e traços psicopáticos, foram associadas como maiores fatores do abandono terapêutico
Oitavo - Detectou-se também que os transtornos de personalidade borderline aparecem como um dos fatores que contribuíram com maior frequência para a interrupção do tratamento psicoterapêutico, em função das características transferenciais de hostilidade e dificuldade de vinculação.
Nono – considerou-se também que, nos casos de depressão, os abandonos terapêuticos são mais frequentes e os fatores associados ainda são pouco explorados em relação a estas interrupções precoces.
Décimo – Outro fator apontado foi o índice elevado de pacientes que referiram a dificuldade financeira como responsável pelo abandono do procedimento psicoterapêutico.
Décimo primeiro – a necessidade de resultados imediato foi ponderando como fator agravante. Muitos pacientes, apesar de serem alertados que a medicação ataca os sintomas sem tratar a causa, optam por tratamento medicamentoso por deduzirem que o alívio é mais rápido. Ignoram o custo mais elevado e demorado no caso de medicação. Muitos usam medicamentos por anos, sendo substituídos ou aumentada a dosagem. A maioria tornam-se dependentes da medicação ao invés de tratados por ela.
No procedimento psicoterapêutico, existem três categorias de pacientes:
1 - Os que fazem tratamento à base de medicação;
2 – Os que são tratados apenas com procedimento psicoterapêutico;
3 – Os que fazem associação medicamentosa e psicoterapêutica;
Foi unânime a percepção que, os pacientes que apresentavam quadros depressivos, transtornos de ansiedade, síndrome do pânico e transtornos bipolar apresentaram maior permanência no procedimento terapêutico - os que fazem associação medicamentosa com a psicoterápica. Também foram os que apresentaram maior resultado de cura no tratamento dos quadros depressivos orgânicos e psicoemocionais.
Os pacientes que desistiram do tratamento psicoterápico, apresentaram longos anos de uso de medicamentos sem diminuição dos quadros depressivos por transtornos de ansiedade.
No caso dos pacientes que foram questionados pelos psicanalistas sobre o abandono do tratamento, "alegaram um sentimento de melhora", julgando não achar mais necessário continuar a psicoterapia e, em sua maioria, não expressaram desejo de retornar ao tratamento.
Conclusão:
Os psicanalistas participantes do debate, perceberam que a decisão de interromper o tratamento tem motivação diversificada e complexa. No caso dos pacientes que abandonaram a terapia, por considerarem-se melhores em seus quadros, não tiveram a aprovação de seus terapeutas.
Psicanalistas que atenderam pacientes que decidiram retornar à terapia, relataram que esses pacientes apresentavam quadros agudos. Os sintomas reclamados anteriormente, haviam potencializado e somatizado.
Osésa Rodrigues de Oliveira
Psicanalista Clínico
Pós Graduado em Psicanalise Aplicativa.